terça-feira, 15 de junho de 2010

Vídeo - Que Talk. 2 - AV2

Breves considerações sobre as relações entre linguagem, cultura e educação evidenciadas no vídeo “Que Talk”

Na disciplina Aspectos Antropológicos e sociológicos da Educação, o vídeo “Que Talk” (Festival do Minuto, 1992) serviu-nos como instrumento de pesquisa e analise da pós-modernidade. Procuramos, neste período, tencionar criticamente as relações entre linguagem, cultura e educação. Num primeiro momento, os debates sobre esta intrincada relação deram origem a um leque de possibilidades de análise, numa multiplicidade de aspectos que nos levaram a pensar este tema como jamais o teríamos imaginado. Verificamos que a filosofia, a antropologia, a lingüística, a psicologia, a sociologia e a inteligência artificial, dentre outros diversos campos do saber, têm contribuições magníficas a dar sobre o tema, convidando-nos a entrar num universo vasto de considerações novas e de infindáveis questionamentos sobre como, afinal, linguagem, cultura e educação se relacionam na pós-modernidade.
Após a troca de e-mails, textos, idéias, opiniões, após as aulas, slides e debates, e depois de filtrarmos todos os nossos “achismos” sobre o tema, alguns aspectos do problema tencionado mereceram uma maior atenção de nossa parte.
Visto, revisto e analisado, o conteúdo do vídeo “Que Talk” nos remete a uma critica da linguagem cultural em nossos dias, pautada por um evidente esvaziamento lingüístico somado a um empobrecimento da fala e a uma crescente desvalorização da língua materna. A temática do programa de entrevistas, utilizada na obra, reveste ironicamente esta critica e ressalta o “drama” da pós-modernidade: a linguagem é uma troca, mas se esta troca for vazia de significado, o produto cultural gerado pela troca será, conseqüentemente, esvaziado de sentido.
“A linguagem não pode ser considerada como um simples instrumento, utilitário ou decorativo, do pensamento. O homem não preexiste à linguagem, nem filogeneticamente nem ontogeneticamente. Jamais atingimos um estado em que o homem estivesse separado da linguagem, que elaboraria então para “exprimir” o que nele se passasse: é a linguagem que ensina a definição do homem, não o contrário”.
A troca vazia gera idéias vazias, e não apenas idéias. No buraco negro do esvaziamento, cabem, também, o pensamento particular e universal, os relacionamentos afetivos, as relações familiares e de trabalho, as considerações acerca da identidade humana no mundo, a ética pessoal, o comportamento social, as aspirações individuais e até a esperança política.
Mas tal esvaziamento não nasceu do nada, ele foi “cultivado” com o passar do tempo através da falência gradativa dos grandes pilares da sociedade (Estado, família, religião, escola), falência esta ocasionada pela irreversível mutabilidade histórica trazida pelas transformações sociais ocorridas nos últimos séculos, especialmente a partir do advento da filosofia iluminista e das revoluções Industrial e Francesa, que, inegavelmente, favoreceram o desenvolvimento da linguagem humana pela interrelação globalizante entre os povos. A nova relação entre as nações, oriunda do capitalismo pós-moderno, conduziu a humanidade a um entrelaçamento entre os povos, suas línguas, sua cultura local, e entre os Estados nacionais, bastante profícuo, diga-se de passagem, mas coincidiu, não raras vezes, com o fracasso político das instituições democráticas pelo advento ao poder de sistemas totalitários.
“A chamada "pós-modernidade" aparece como uma espécie de renascimento dos ideais banidos e cassados por nossa modernidade racionalizadora. Esta modernidade teria terminado a partir do momento em que não podemos mais falar da história como algo de unitário e quando morre o mito do progresso. É a emergência desses ideais que seria responsável por toda uma onda de comportamentos e de atitudes irracionais e desencantados em relação à política e pelo crescimento do ceticismo face aos valores fundamentais da modernidade”.
Assim, se o mundo viu nascer a idéia de globalização, que entrelaça as diversas culturas, viu também nascer um grande descrédito em relação às instituições basilares da sociedade que, muitas vezes, não representavam as aspirações da população, mas sim dos poderes políticos ora constituídos. Ou seja, a globalização afastou as pessoas das instituições sociais tradicionais mas, para compensar, acabou fazendo com que elas se unissem independentemente do pertencimento social natural.
Hoje, no território livre da internet, a idéia de “comunidade” ultrapassa o limite do tempo e do lugar, ligando pessoas diferentes, de locais diversos, com historias distintas e, talvez, sem nenhuma outra afinidade, a não ser por um único aspecto em comum: o elo que liga os grupos sociais modernos, as chamadas tribos urbanas, uma nova idéia de fraternidade, cujos laços formais inexistem, dando lugar a laços subjetivos, mutáveis, mas importantes a seu modo, que contam com um código próprio de fala e de comportamento.
O falar e o agir das tribos estão intimamente relacionados. As tribos agem, comportam-se, de acordo com conceitos bem particulares, não necessariamente lógicos, mas que fazem sentido para os que a elas pertencem. Esta pertença é a identidade da atualidade, da liquefação cultural que vivenciamos. A fala diferenciada é o código de comunicação de seus membros, a “língua” que o grupo fala. A identidade que o sujeito escolhe para si assumiu uma importância ontológica superior aquela adquirida por nascimento.
Em decorrência, o modo como o individuo deseja se expressar torna-se mais importante do que o modo como ele deveria se expressar em sua língua materna, afetando-a e desvalorizando-a, como se sua estrutura formal fosse um sinal do elemento tradicional, que se quer afastar. O que o indivíduo quer comunicar com o seu código lingüístico particular e comum aos seus pares não parece caber na língua padrão. Ou seja, esta, que é vasta em sua abrangência acabou por tornar-se obsoleta para a necessidade de especificidade do eu.
Na cultura liquida, o eu é a medida de tudo. Mesmo a pertença a um grupo não significa uma estabilidade social, mas simplesmente um estado do eu aqui-agora, mutável essencialmente, transformador, metamorfoseado. Em suam, na atualidade, o eu é liquido.
“Para a grande maioria dos habitantes do líquido mundo moderno, atitudes como cuidar da coesão, apegar-se às regras, agir de acordo com precedentes e manter-se fiel à lógica da continuidade, em vez de flutuar na onda das oportunidades mutáveis e de curta duração, não constituem opções promissoras”
Este conceito é paradigmático e por isso mesmo irreversível. O que nos interessa, não apenas como estudantes e futuros profissionais de educação, mas principalmente como críticos da sociedade à qual pertencemos, é como esta liquefação da cultura pode favorecer o enriquecimento da mesma e que papel a educação tem neste processo.
Contudo, “o que parece ser a decadência da cultura é o seu puro caminhar em direção a si mesma” . Com esta afirmação, o filosofo Adorno chama a nossa atenção para o fato de que a cultura, ainda que para alguns se encontre hoje à beira de um colapso, sempre encontra saídas históricas para que o fenômeno da socialização, nossa característica mais marcante, aconteça dia após dia.
Nesta busca incessante de harmonização social e frutificação cultural, a educação exerce um papel basilar: sem ela, a sociedade fracassaria, pois viver em sociedade, o homem tem de ser “humanizado”, ou seja, ter sua racionalidade lapidada educativamente. É a educação que torna o homem um ser humano de verdade, que torna o animal racional um ser, de fato, pensante, agente e transformador do meio em que vive. É a educação que nos torna “seres falantes”, pois linguagem e pensamento são duas faces da mesma razão. Por isso, a linguagem é a expressão do pensamento. Se este é pobre, aquela, conseqüentemente, será, também, esvaziada de sentido.
Com efeito, a educação não pode prescindir da idéia de homem concreto. A escola, por sua vez, não pode fechar os olhos à liquefação da cultura à qual estão inseridos os estudantes. Sem esta aceitação do real, a escola trabalhara sempre com métodos obsoletos e distantes da realidade próxima e eleita pelos alunos. Estes, por sua vez, não se reconhecendo nela, desenvolverão a idéia nociva de que a escola não os compreende e de que ela está aquém de suas aspirações e necessidades.
A escola, então, passará a ser um ambiente de transmissão de conhecimentos estáticos, quando deveria, por outro lado, ser um ambiente propício para a geração de um conteúdo motivado pelo amor ao ato de conhecer, sem dúvida, “o viver” próprio do homem. Mas qual deve ser a face da nova escola? Neste período de conflito, de transição entre o modelo antigo, desgastado, e o modelo novo, que ainda não nasceu de fato, dar respostas simples e rápidas pode ser, além de superficial, bastante perigoso para o desenvolvimento da educação. Conclusões pouco embasadas desprezariam aspectos importantes de uma questão aberta, que carece de atenção e de um grande volume de discussões correlatas. Mas isso não nos impede de formular perguntas. Ao contrário, uma questão aberta é, por si só, um território de exploração, de descobertas. É necessário pensar.
“Que espécie de currículo deveremos ter na escola para enfrentar esse desafio? De quais características da modernidade e do currículo moderno, deveremos livrar-nos a fim de fazer com que a escola consiga se alinhar aos novos tempos? O que conservar? Quais modismos evitar? [...] Quais valores, práticas e identidades são, em princípio, dignos de respeito e porquê?”
Por isso, uma escola que determina imperativamente o conteúdo a ser apreendido, que despreza a cultura multimídia, marca de nossa época, que despreza o ambiente especifico de vivencia dos alunos, que não entende o conhecimento de forma interdisciplinar e que não forma os seus profissionais de modo a capacitá-los a estabelecer uma frutuosa relação de comunicação com a turma, será lembrada por eles como um monumento à incompreensão. A escola não deve ser “lembrada” pelos alunos, mas vivenciada no seu dia-a-dia.
“Os educadores precisam compreender que ajudar as pessoas a se tornarem pessoas é muito mais importante do que ajudá-las a tornarem-se matemáticas, poliglotas ou coisa que o valha”.

Alunos: Aleandes Nascimento dos Santos, Ana Maria Dolianiti, Carolinie Gomes da Silva, Marcela Maria Almeida Silva, Miriam Cristine Viana Coelho, Nicole Cavalcante Tavares e Valdir Bispo Pitanga.






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