Um homem solitário em meio à multidão e aos obstáculos da metrópole. Um sonhador deslocado no tempo e no espaço, sem saber ao certo aonde ir. Um jovem que, diante da impossibilidade de conseguir o que almejava, aceita o que lhe oferecem, sem contestar. Que gente é essa? Que mundo é esse? Que época é essa em que a individualidade ocupa o lugar da indignação diante do sofrimento do outro? Que sociedade é essa que substituiu a inquietação pelo conformismo, pela simples adaptação?
Essas são algumas das questões implícitas no filme “O Sonho Acabou”, incluído no Festival do Minuto, e que nos proporcionam a reflexão acerca do momento histórico que atravessamos. A crise de valores, a ausência de certezas sobre o que é certo e o que é errado, a depressão diante do cotidiano, a falta de perspectiva, de causas por que lutar atingem as mais distintas áreas da sociedade. E com a educação não seria diferente. Vivemos numa dormência apática, sem sonhos, sem ideais. Nosso grito de guerra por estes temas há muito se perdeu. Diferentemente da época em que éramos destemidos, lutávamos por nossos sonhos de liberdade e democracia.
O vídeo retrata um “John Lennon” – ícone de uma geração que sonhou o mundo livre e feliz – desmotivado pela realidade, o que torna possível traçar um paralelo com a situação do educador brasileiro. Antes, valorizado, considerado agente fundamental para mover a máquina da mudança, crítico, engajado nas lutas pela melhoria da qualidade de vida dos brasileiros, exemplo a ser seguido, aquele que agia em favor da coletividade Hoje, relegado ao segundo plano das profissões, mal pago, ameaçado, desvalorizado, violentado, um cidadão à margem da mesma sociedade que, outrora, o fez acreditar que tinha a capacidade de transformar o Brasil e o mundo.
Uma luz fria sobre as revelações feitas pelo filme leva-nos a ver que o sonho acabou não apenas para os professores, mas para todos os que, um dia, acreditaram na educação como meio de desenvolvimento moral, social e profissional. Afinal, como estimular o pensamento crítico, despertar para o “mundo real” – injusto, desigual, sectário – cérebros entorpecidos pelas idéias de poder, sucesso e prazer a qualquer a preço?
Entretanto, já que nos propomos a iniciar esta caminhada, abraçando a causa da educação nessa época de tantos conflitos, devemos parar e olhar mais de perto: a solução sempre será possível enquanto houver iniciativas, ainda que, aparentemente isoladas. Como futuros educadores devemos concentrar forças na busca por novos sonhos, novas formas e ferramentas de transmitir aos alunos e, consequentemente, à sociedade, os verdadeiros valores da educação e da vida. Afinal, como bem definiu o cientista e escritor Augusto Cury, “bons educadores preparam filhos e alunos para aplausos, os educadores brilhantes preparam filhos e alunos para o fracasso”.
Alunos: Ana Paula Oliveira, Carla Cristina, Rosania Rodrigues, Thiago e Walmir.
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AV1
“O Sonho Acabou”
Essa expressão foi proferida por John Lennon em sua musica “God” para anunciar que a Contracultura estava chegando ao fim. Mas o que foi a Contracultura? A Contracultura foi um movimento de caráter social e cultural, surgido nos Estados Unidos, na década de 60, e ganhou força entre os jovens daquela geração. De seus preceitos, destacamos a valorização da natureza, a luta pela paz, o respeito às minorias raciais e culturais, o anticonsumismo, a critica aos meios de comunicação de massa (televisão), a discordância com os princípios do capitalismo e da economia de mercado, dentre outros.
A história nos lembra que, naquela época. a luta organizada era a esperança de realizar o sonho de dias melhores para toda a sociedade.
Hoje, a pergunta que fazemos e que não quer calar é:
Estudar pra que, lecionar pra quê?
Quem decide educar enfrenta desafios diários e, ao que parece, cada vez mais complexos. Se, tempos atrás, as desigualdades sociais, a falta de infraestrutura – escolas distantes dos centros urbanos, mal conservadas, ausência de material básico para as aulas, turmas superlotadas -, as ameaças da criminalidade e os baixo salários eram indicados como os principais obstáculos, agora, também podem ser adicionados aspectos sociológicos e de mudança cultural, como o desinteresse dos alunos pelos estudos, a ausência de participação das famílias no processo de educação de seus filhos, a introdução de recursos tecnológicos que podem, ao invés de auxiliar, interferir no processo de aprendizagem dos alunos.
O sonho de seguir em frente e desenvolver uma carreira exemplar na área da educação é, constantemente, ameaçado por pesadelos da vida real. Outro dia, um amigo da minha família, que foi jovem nos chamados Anos Dourados, comentava que sentia-se feliz por ter vivido sua juventude “numa época em que as pessoas estudavam para vencer na vida; hoje estudam pensando em ganhar a vida”. Um relato que resume a drástica mudança por que passou a educação no Brasil. Afinal, como um professor pode dizer a um jovem, matriculado no ensino público ou privado, que o aprendizado da sala de aula, o convívio no ambiente escolar e seu esforço pessoal vão lhe garantir o sustento mais adiante, no mercado de trabalho?
Identificamos o desabafo de uma estudante de Pedagogia que relata seu calvário como estagiária numa escola da zona norte de São Paulo. Seu depoimento é recheado de criticas ao sistema. As próprias professoras do ensino público, em sua opinião, comportam-se como funcionárias sem compromisso. Para a maioria delas, estar ali representa só uma tarefa burocrática para ganhar o salário no fim do mês. O retrato negativo que a estudante relata sobre seu estagio é reflexo do que acontece hoje nas escolas públicas, o verdadeiro descaso com a educação.
Saímos às ruas e entrevistamos A. de Almeida, 30 anos, formado em Letras Português / Inglês, professor do Sesi. Perguntamos-lhe se o sonho para ele havia acabado. Ele nos confirmou que sim e discorreu uma série de insatisfações tanto sobre salários, quanto sobre as instituições de ensino, alunos etc, e demonstrou-nos comodismo com a situação. Ao ser questionado sobre o motivo de não fazer algo para mudar e de continuar da profissão, disse ser “confortável” não fazer nada e ganhar o salário da rede publica no final do mês, assim lhe garantia “as cervejinhas”.
O livro “As Meninas da Esquina”, da jornalista Eliane Trindade, recém-lançado pela editora Record, é outro exemplo do abismo que separa aqueles que estão à margem da sociedade da educação que, em tese, poderia lhes restituir a dignidade. A obra, que inspirou o filme “Sonhos Roubados”, de Sandra Werneck, reúne os diários de seis adolescentes que sobrevivem da prostituição nas ruas de diferentes cidades brasileiras.
Em vários trechos, as personagens, amparadas por projetos sociais desenvolvidos por ONGs retratam a difícil e instável relação que mantém com as escolas onde estão matriculadas, com os professores e colegas. Todas dizem saber que precisam freqüentar a escola, “para ser alguém na vida”, mas entre a teoria e a pratica sobram desanimo, cansaço, desalento, desinteresse.
As meninas contam episódios que só reforçam a face cruel da educação pública no Brasil: professores que “reclamam de tudo e implicam com a gente”, colegas brigando por causa de drogas, escolas caindo aos pedaços. Uma das personagens relata que duas semanas sem ter aulas porque a escola estava em obras, depois que parte do teto caiu sobre uma aluna. Ela diz saber que professores já haviam “tirado dinheiro do próprio bolso para manter a escola de pé”.
Uma pesquisa realizada pela Fundação Getulio Vargas (FGV-RJ) sobre a evasão escolar revelou que 40% dos jovens de 15 17 anos deixam de estudar simplesmente porque acreditam que a escola é desinteressante (Fonte: Jornal e Educação – Associação Nacional de Jornais – ANJ). Coordenada pelo economista Marcelo Neri, a pesquisa mostra que, apesar de diversos estudos demonstrarem o impacto da educação na qualidade de vida e na renda dos indivíduos, em 2006, 17,8% da população de 15 a 17 anos que deveriam estar cursando o Ensino Médio, caso não houvesse atraso escolar, estavam fora da escola.
Entre as razões que levaram esses jovens a abandonar os estudos, na comparação entre 2004 e 2006, o desinteresse pela escola caiu de 45,12% para 40,29%, embora ainda seja o principal motivo. Já a necessidade de trabalhar aumentou de 22,75% para 27,09%. Segundo o coordenador da pesquisa, o levantamento mostrou que não basta garantir o acesso ou criar programas de transferência de renda para assegurar que esse jovem permaneça na escola, é preciso torná-la mais atrativa, interessante cativante. O problema da evasão é grave e atinge quase 20% da população de 15 a 17 anos”, ressaltou..
Na opinião do pesquisador, as políticas públicas só terão sucesso se houver a concordância e a participação dos pais e os alunos. É preciso entender as necessidades dos clientes dessas políticas”, explica. Marcelo Neri diz que é importante informar e conscientizar esses jovens sobre os benefícios trazidos pela educação e atraí-los à escola.
Recorremos novamente à Augusto Cury, para quem “a educação não precisa de reforma, mas de uma revolução. A educação do futuro precisa formar pensadores, empreendedores, sonhadores não apenas do mundo em que estamos, mas do mundo que somos”.
Talvez tenhamos de resgatar os ideais da Contracultura e promover uma nova revolução tanto na sociedade, quanto na cultura e na educação do país. Quem sabe, assim, resgatemos nossa esperança de uma vida mais justa?