segunda-feira, 14 de junho de 2010

VÍDEO 6.1 - QUE TALK - AV2

(http://www.youtube.com/watch?v=tyjd9VpqsRY)


“Que Talk” retrata de uma maneira irreverente e bem humorada o decréscimo da língua na sociedade. O” Empobrecimento da Fala” é exemplificado através de dois travestis onde em uma entrevista se comunicam utilizando uma linguagem própria. Ambos repetem a mesma frase, tanto para perguntar quando para responder:
“Uma loucura? Uma coisa louca!”.

Esta obra sendo assistida através de um ponto de vista meramente superficial não nos revela o verdadeiro sentido de sua criação. Seu propósito vai além de fazer o telespectador rir. A obra nos convida a pensar e refletir sobre um grande problema que afeta nossa sociedade.
A partir da análise crítica do vídeo observamos uma linguagem tribal utilizada pelos personagens que exemplifica a realidade lingüística social.

Tribos Urbanas

“ Sociedade humana rudimentarmente organizada. / Na Antiguidade, divisão do povo: o povo romano era dividido em tribos. / História natural na classificação sistemática, subdivisão menor que a subfamília”. (definição de tribo pelo Dicionário Aurélio )

Alguns pensadores do século XX, como Maffesoli, definem tribos urbanas como “a moda dos grupos iguais, onde pensam e sentem uns como os outros”. Isso se dá pela diversidade cultural existente em todos os lugares do mundo.
Os movimentos que são identificados como tribos urbanas se estetizam através de seu vestuário, tem emoções coletivas, se organizam em comunidades e possuem uma linguagem própria.Esses grupos cada vez mais, estão sendo estudados por profissionais como psicólogos e sociólogos, que tentam entender melhor o universo desse “fenômeno” caracterizado pelos grandes centros urbanos.

“Acontece que por detrás dessas “tribos” há sempre um motivo pelo qual ela foi criada: medos, complexos, tais como: rejeição, exclusão, vontade de ser diferente, querer ser notado... Mas todas são criadas com um único objetivo: mostrar a todos que “EU TAMBÉM TENHO MEU LUGAR NA SOCIEDADE””

(Camila Cury – Vida de Adolescentes, acesso em 25/01/2010, http://www.escolainteligencia.com.br/blog/vida-de-adolescente/tribos/)

Outros pensadores, no entanto, definem as tribos urbanas como sociedade afetiva. Este é um conceito bem interessante que acreditamos fazer parte de todas as tribos, pois a sobrevivência delas depende de um relacionamento que envolve identificação, pensamentos e idéias bem semelhantes.
As tribos estão presentes em todas as fases do ser - humano, porém, é no universo jovem que essa manifestação se acentua, no intuito de se exteriorizar a maneira de como ele se situa no mundo e a idéia de como é ser jovem.
É por este motivo que, em alguns casos características como vestuário ou linguagem são extremamente exacerbados. Uma maneira de se impor, de chamar a atenção para si mesmo ou para o grupo.

“A estética que se elabora na imagem parece, ao que tudo indica, pode ser como uma linguagem que impulsiona e favorece a formação de pequenos grupos ou tribos. A eficácia da aparência assume a função de identificar, de agrupar. Nas grandes cidades, em que os sujeitos se tornam anônimos na multidão, torna-se possível ser visível, e reconhecido”. (CASTRO,1998).

Após a análise de alguns pensadores, percebemos que na pós-modernidade o indivíduo fica mais vulnerável à cultura da materialidade e perde-se um pouco da essência de tribo. Torna a identidade nômade, e, suscetível a lógica do consumo do mercado.

“No livro “Modernidade Líquida”, Zygmunt Bauman usa a metáfora da “liquidez” para caracterizar o estado da sociedade de nosso tempo que, como líquido, é incapaz de manter a forma fixa, estética. Sua agilidade, ao contrário da antiga “modernidade sólida”, faz com que na “modernidade líquida” as instituições, os estilos de vida, crenças e convicções mudem antes que tenham tempo de se solidificar em costumes, hábitos e verdades “auto-evidentes”
(HTTP://cultura-liquida.blogspot.com/2006/10/cultura-liquida.html)

Maffesoli (1988) afirma que:

“O que podemos reter dessas histórias é que existe um constante movimento de vaivém entre as tribos e a massa se inscreve num conjunto que tem medo do vazio”

“Já se foi o tempo do roqueiro que só se vestia de preto e do gótico que não ouvia reggae. As tribos urbanas ainda estão aí, mas os jovens transitam sem problemas entre elas. “É como se surfassem umas nas outras”.
(Revista Veja – edição especial julho de 2003)

Nessa onda entre tribos nota-se a superficialidade da fala, o social comunica-se de forma monossilábica, onde muitas vezes há a incapacidade de estruturar frases com sentido. O uso da linguagem tribal alimenta o empobrecimento da língua.

“Quem não sabe falar bem não consegue justificar a sua própria existência. O decréscimo da língua portuguesa empobrece o país”
(Antonio Olinto, membro da Academia Brasileira de Letras,http://www.lerparaver.com/braille_escrita)

A comunicação precária desses grupos afeta de forma direta na formação dos indivíduos nos aspectos profissional, social e educacional.
Em seu livro A língua Portuguesa e a unidade do Brasil Barbosa Lima Sobrinho, defendia que o país ainda não se dividiu justamente por conta da língua. Todavia, a segmentação da linguagem de tribos, como funkeiros, gangues de rua, skatistas, pode trazer prejuízo no futuro. Isso pois a maior parte dos jovens não aprendeu a própria língua. Por isso os adolescentes correm o risco de continuar utilizando a linguagem falada nos grupos durante toda a vida.

“Senão estaremos formando pessoas despreparadas até mesmo para seguir uma carreira profissional.”  (Barbosa Lima Sobrinho)

A linguagem tribal é uma forma de identidade cultura, estruturada por gírias ou jargões de grupos específicos.

“Giria é um sentido lato, a linguagem especial de um grupo social ou class profissional; em sentido restrito, linguagem particular de um grupo caracterizada por deformações intencionais, criações anômolas, transformações semânticas, de caráter burlesco, jocoso ou depreciativo”. (LUFT,1973)

“Num sentido linguísticamente mais técnico: representa exclusivamente uma forma de língua na qual o léxico específico está ligado a um grupo social, ou porque o grupo tem uma vida fechada (a gíria politécnica ) , ou porque ele elaborou uma língua secreta que o protege ( a gíria dos malfeitores, a gíria dos mercadores, comerciantes)”. (CARDONA,1991)

Gíria não é jargão, e vice versa. A gíria é uma linguagem que pode sair do grupo e ir para o social, pode até se tornar comum na linguagem popular. O jargão é uma linguagem técnica, específica de uma profissão por exemplo.

Na educação

No âmbito educacional a formação de tribos e suas conseqüências também estão presentes. As gírias e linguagem empobrecida são fortemente utilizadas nesse universo.
O discente usa essa linguagem para fazer parte do grupo, ser aceito, se socializar. O docente também utiliza com o mesmo propósito, o de ser “aceito” e de chamar a atenção de seus alunos em prol de uma aprendizagem mais dinâmica e interativa.
Nesse espaço democrático que é a sala de aula, há a manifestação desses grupos e o professor precisa estar preparado para entrar nesse universo e interagir com os alunos levando em consideração as diferenças individuais de cada um (social, emocional, física e cultural).

“Nesse novo cenário da educação, será preciso reconstruir o saber da escola e a formação do educador.”

“... o professor deverá ser mais criativo e aprender com o aluno e com o mundo.”

“Para viver esse tempo presente, o professor precisa engajar as crianças para viver no mundo da diferença e da solidariedade entre diferentes.” (Perspectivas Atuais da Educação – Moacir Godotti – Porto Alegre 2000)

A sala de aula é um espaço onde há uma troca constante, e o professor é responsável por transcender a barreira do transtribal.
É importante que o docente não tenha preferências em sala de aula, porém é necessário que ele crie um relacionamento de afetividade com seus alunos.
O desenvolvimento e a aprendizagem na educação se constroem quando a interseção é representada pela afetividade, pois é através dela que os objetivos são atingidos.

“Ensinar, entretanto, não é somente transmitir, não é somente transferir conhecimentos de uma cabeça a outra, não é somente comunicar. Ensinar é fazer pensar, é estimular para a identificação e resolução de problemas; é ajudar a criar novos hábitos de pensamento e de ação.

Isto não significa que a exposição não deva ter estrutura alguma, ou seja melhor professor ser um mal comunicador. Significa, sim, que a estrutura da exposição deve conduzir à problematização e ao raciocínio e não à absorção passiva das idéias e informações do professor. Significa desenvolver “empatia”: colocar-se no lugar do aluno e, com ele, problematizar o mundo para que, ao mesmo tempo que aprende novos conteúdos, desenvolva seu máximo tesouro: sua habilidade de pensar”.
()

As Conseqüências

O uso da linguagem empobrecida acarreta muitas conseqüências na vida do indivíduo. No cenário escolar, social e profissional.
No escolar, o aluno tem dificuldades de interagir com o meio, assimilação do conteúdo, estruturar pensamentos.
Os alunos transformam-se em adultos sem capacidade de expressão na sociedade, que não sabem organizar suas idéias, não conseguem ler o mundo e utilizam vocabulário inadequado.
No profissional, o indivíduo traz uma herança do cenário escolar, envolvendo o social e afetando o profissional.

Perspectivas de solução

Acreditamos que da mesma forma que a desistruturação da sociedade envolve vários fatores; como culturais, políticos, financeiros, familiares, religiosos levando décadas para ocorrer e se fazer presente em nossa sociedade,também não será de uma hora para a outra que iremos atingir o equilíbrio desta.Hoje devemos não só pensar que mundo deixaremos para os nossos filhos ,mas também que filhos deixaremos para o mundo.
Os grandes centros urbanos são os que mais sofrem,pois é onde a diversidade cultural é grande; e; a importância com o eu prevalece sobre a importância do próximo, da solidariedade.
A incessante busca de prazeres passageiros através de um bem estar egoísta,nos faz ver que as estruturas sólidas já não mais existem e que na pós-modernidade a liquidez trouxe a decadência dos pilares.
Segundo vários filósofos,antropólogos e psicólogos, somos seres sociais ;logo ;todo nosso conhecimento é adquirido através da educação e da cultura e para que haja o desenvolvimento de idéias e de ideais,precisamos interagir com a finalidade de resgatar alguns valores,adaptando a nova sociedade ;precisamos ter consciência da necessidade da mudança,precisamos querer e lutar por isso para que os pilares sejam reestruturados. A mídia e a rua,pilares adiquiridos nessa globalização devem ser usados como meio de interseção nesse objetivo.

Alunos: Isabela Cavalcanti, Mônica, Débor, Luiz Carlos e Carla Barbosa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário