sábado, 17 de abril de 2010

Vídeo 6 - "QUE TALK" (GRUPO 2)

A partir da exibição em sala de aula de sete vídeos do Festival do Minuto, gostaríamos de apresentar nossa justificativa pela escolha do 6o vídeo, intitulado “Que Talk”, para o desenvolvimento de trabalhos futuros.
A paródia ao programa de entrevistas da jornalista Marília Gabriela, apresentada no vídeo, aponta para uma densa crítica ao confinamento lingüístico da atualidade. Na trama, duas pessoas pertencentes à mesma “tribo” comunicam-se, à primeira vista, muito facilmente. Mas, por trás desta suposta integração, nota-se que os interlocutores estão extremamente limitados à sua própria linguagem, a qual não evolui, tampouco os faz evoluir.
O esvaziamento lingüístico que permeia os mais variados segmentos da sociedade, hoje dividida em verdadeiras tribos - com linguajar, gestual e conduta próprios - acaba gerando, não raras vezes, um discurso esvaziado de sentido. Apesar de bem aceito, tal discurso, infelizmente, quase nunca é passível de crítica.
Não necessariamente, a existência de grupos se constitui em algo ruim para a sociedade. É humano agrupar-se para o desempenho de tarefas, por afinidades variadas ou por laços afetivos. O elemento criticável é a criação de um universo paralelo, que segrega o pensamento e limita as aspirações. Neste sentido, se considerarmos a linguagem como a expressão própria da racionalidade, podemos afirmar que a referida atrofia lingüística conduz a uma atrofia do pensamento. E atrofiado, o ser humano acaba por contentar-se com sua linguagem pobre e, consequentemente, com suas relações intra-tribo. Porque a esta altura, o extra-tribo, tão necessário ao desenvolvimento humano pleno, já terá se tornado, para alguns, inatingível como tentativa e, para outros, impensável como possibilidade.
Transferindo o tema para a sala de aula, é preciso que o profissional da educação sinta-se desafiado a superar essas diversidades tribais. Despindo-se de preconceitos e encarando as dificuldades, o educador deve procurar o caminho da facilitação lingüística, visando à compreensão de todos os alunos. Não deve haver um menosprezo pela linguagem intra-tribo, mas deve-se valorizar, de forma criativa, a língua materna e as diversas outras “linguagens” que transitam pela sociedade. Certamente, o engajamento professor-aluno será decisivo para despertar esta necessária atitude trans-tribal. Enfim, ambos devem compreender que quanto mais confinado em seu universo tribal, mais o ser humano estará excluído do universo social.

Grupo: Marcela Almeida, Miriam Critine Vianna Coelho, Ana Maria Dolianiti, Carol Gomes, Nicole Cavalcante Tavares, Valdir Bispo e  Caroline Gomes da Silva

AV1
 
Introdução

Convidados a iniciar uma análise mais apurada sobre a crítica apresentada no vídeo “Que Talk” ao esvaziamento lingüístico da atualidade, especialmente em relação com a problemática das tribos urbanas, nós, tendo em vista a complexidade e a multiplicidade de facetas relacionadas ao tema, concordamos que o mesmo não poderia ser tratado unilateralmente, sob o risco de procedermos a uma análise superficial e distante do problema.
Por essa razão, abrindo o vasto leque de enfoques possíveis, optamos por centrar nossa pesquisa sob o prisma de seis aspectos considerados fundamentais à elaboração de nossa abordagem crítica, os quais estão elencados a seguir:

1. Filosofia da linguagem

2. Psicologia do desenvolvimento humano

3. Antropologia lingüística

4. Lingüística

5. Comunicação virtual

6. Sociologia

Tal abordagem não pretende apresentar uma colcha de retalhos, com informações apenas justapostas sobre o tema. Nosso objetivo conjunto é sincronizar os principais elementos de uma mesma questão que atinge o ser humano e a sociedade na totalidade de seu corpo. Alguns campos específicos do conhecimento podem nos ajudar a estudar este tema, não apenas no que tange à solução de problemas, mas quanto à formulação de questões inerentes a uma análise futura mais pormenorizada sobre a questão. É o que veremos no percurso deste breve estudo. Ao final de cada parte, foram incluídas algumas questões relativas ao aspecto enfocado, um sinal de que nosso propósito, neste momento, é abrir os olhos para o problema, despertar para a necessidade de buscar sempre novas respostas.

1. Linguagem X tribos urbanas: o ponto-de-vista da Filosofia da Linguagem

O empobrecimento da língua, o esvaziamento das palavras e das idéias, a conseqüente divisão da sociedade em grupos que, intencionalmente ou não, se auto-segregam, o próprio isolamento social, reflexo do isolamento mental e lingüístico do indivíduo: todos estes temas foram delineados de modo irônico no vídeo intitulado “Que Talk”, de Luiz Vilaça, apresentado no Festival do Minuto, em 1992. Vejamos o que este vídeo pode nos mostrar, do ponto-de-vista filosófico.
A filosofia sempre teve como vocação a busca pelos princípios que regem a realidade. A filosofia contemporânea tem reservado grande atenção ao tema da linguagem, procurando compreender as relações entre seu uso como expressão da verdade sobre as coisas. Com o nascimento da Filosofia da Linguagem, no século XIX, a pesquisa filosófica passou a debruçar-se, mais formalmente, sobre o emprego da linguagem como manifestação do pensar. Por razões óbvias, não vamos nos ater às considerações deste ou daquele autor, mas sim às contribuições que a reflexão filosófica pode trazer ao nosso tema .
Fato incontestável, o esvaziamento lingüístico focado no vídeo “Que Talk” se lança à nossa reflexão como que a indagar-nos acerca da nossa responsabilidade frente a este fenômeno. A sociedade, hoje, congrega um sem-número de modos de pensar e agir, os quais se refletem através do vestuário, do comportamento e, também, da linguagem. O “falar” de uma pessoa diz muito sobre quem ela é, no sentido de identificá-la. Contudo, paradoxalmente, este mesmo “falar” diz muito pouco sobre o que ela é, no sentido de compreendê-la. A demanda imagética da atualidade é inversamente proporcional à necessidade de sentido em que está mergulhada a nossa segregada sociedade. As palavras parecem ôcas, vazias de significado. Há muito o que ver e ouvir no ser humano, mas o que há a descobrir sobre ele, sobre o que ele verdadeiramente é e deseja mostrar?
Atualmente, emergem na sociedade um grande número de “tribos urbanas”. Esta expressão, usada pela primeira vez pelo sociólogo francês Michel Mafessoli, serve para designar microgrupos que têm como objetivo principal estabelecer redes de amigos com base em interesses comuns, apresentando, um modo particular de comportar-se e de manifestar-se e obedecendo a uma estrutura própria de pensamento, ainda que esta não seja plena de sentido. No campo da linguagem, as mencionadas tribos acabam por criar um código de comunicação, que liga os seus membros entre si e os faz estabelecer uma relação de contato, uma relação de comunicação intra-tribo.
Certamente, “um contraste de teorias não é uma catástrofe, é uma possibilidade a explorar”, como disse o filósofo Alfred Whitehead, mas é preciso que haja o que explorar culturalmente, que haja um frutuoso entrelaçamento das mais diversas cosmovisões, ou seja, que a diversidade do pensar conduza as idéias e os costumes que transitam na sociedade a um debate, a um encontro de pontos-de-vista, a um florescimento cultural, e não à atitude de isolamento em que nos encontramos hoje.
Este é o ponto central de nosso problema: quando o relacionamento intra-tribo se torna a relação exclusiva do ser humano com o resto do mundo. Em outras palavras, até que ponto a tribo se torna o único mundo daquelas pessoas que a compõem. Dirá Herder que “a cadeia de pensamentos torna-se cadeia de palavras”. O falar é expressão do pensar. Se este está limitado às vivências de um mundo particular, também a fala estará culturalmente presa a este universo menor. Daí o confronto hodierno de modos de expressão lingüística, que muitas vezes faz com que os interlocutores não se compreendam, ou, pior, suspendam, por princípio, a possibilidade de comunicação entre si sob a alegação de que pertencem a “culturas diferentes”.
Wilhelm von Humboldt, iniciador da lingüística moderna, afirmava que a língua reflete e condiciona o modo de pensar e de se expressar das pessoas, havendo, desta forma, uma estreita relação entre a mentalidade de um povo e a língua falada por ele. No século XIX, ele talvez não imaginasse o quanto tal condicionamento, no século XXI, tem limitado o campo do pensamento, da cultura e da educação.
Falando em educação, é necessário buscar respostas para a imensa gama de perguntas que se impõem em face das inúmeras dúvidas que o presente tema suscita. A escola deve ser o ambiente propiciador do encontro de culturas e não do distanciamento e do antagonismo. O professor deve estar preparado para conduzir a turma no caminho da interrelação de idéias, despertando no aluno o interesse pela língua natural, por culturas, filosofias e tribos diferentes e mostrando, em sala de aula, que a unidade do pensamento só pode ser alcançada através da unidade da diversidade. Mas, efetivamente, como fazer isso?

2. Linguagem X tribos urbanas: o ponto-de-vista da Psicologia do desenvolvimento humano

A ampliação do universo social pela inserção em novos grupos é uma característica da adolescência, levando o adolescente à experimentação de novas alternativas sociais e afetivas,e ao seu desenvolvimento global. Por isso, enfocar esta questão sob o prisma psicológico é fundamental para tentarmos nos aproximar da compreensão sobre os porquês do processo de tribalização na atualidade. Para nos ajudar nesta análise, selecionamos o texto “Tribos urbanas como contexto de desenvolvimento de adolescentes: relação com pares e negociação de diferenças”, da autoria de Maria Cláudia Santos Lopes de Oliveira, Adriana Almeida Camilo e Cristina Valadares Assunção, da Universidade de Brasília (http://www.sbponline.org.br/revista2/vol11n1/art06_t.pdf).
Muitas transformações ocorrem nesta fase e referem-se a um conjunto de processos que vão do amadurecimento biológico à adoção de novos papéis sociais, no curso dos quais o adolescente dá um novo sentido a si mesmo, ao outro e à realidade. Os conflitos têm relação com a necessidade característica deste momento de diferenciação sujeito/outro. A separação envolve um processo de gradativo distanciamento entre os adolescentes e as figuras tradicionais de referência, como a família e a escola, e a conseqüente aproximação com outros adolescentes para dividir experiências. Observa-se uma particular relação espaço-tempo. O tempo passa a ser vivido como uma sucessão de presentes e não como um processo histórico. “Cada situação apresenta uma densidade vivencial intensa, que muitas vezes não deixa rastros para as experiências seguintes, comprometendo o encadeamento temporal necessário, por exemplo, aos processos de desenvolvimento social”.
A problemática das tribos entra neste cenário. “Em resposta à crise de referências simbólicas e institucionais claras, e diante da dureza da realidade social, os adolescentes e jovens urbanos contemporâneos parecem buscar o sentido de si mesmos numa imagem idealizada e ilusória do outro. Ora, nesse contexto, a diferenciação da qual depende a formação das identidades singulares torna-se empalidecida e o sujeito incapaz de se reconhecer na diferença do outro. Passa a viver com ele experiências de fusão imaginária, como a que ocorre em certos grupamentos, que se representam como sistemas mais fechados, que protegem as relações intra-grupais por meio do acirramento das divergências inter-grupos”.
Assim sendo, devemos salientar que as tribos urbanas são, hoje para o adolescente, muito importantes e, por que não dizer, inerentes ao seu desenvolvimento social. A estruturação das tribos nos ajuda a compreender como se articulam a experiência social e os processos de construção de identidade, isto é, como se dão as relações de alteridade nessa fase do desenvolvimento humano. Exatamente por estar numa fase do desenvolvimento em que sua imagem de si encontra-se em rápida mudança e crise, o adolescente, ao mesmo tempo que se autocompreende pelo pertencimento a um grupo, não o faz de modo contratual, fiel, mas passível de transição. A migração de uma tribo à outra é algo mais freqüente do que se pode imaginar.
Mas para que este pertencimento seja válido como experiência própria de uma fase da vida, é necessário que o jovem seja despertado para a reflexão sobre sua relação com a tribo e sobre sua relação com o mundo que o cerca, bem maior, mais vasto e mais desafiador. Contudo, é necessário questionar: o ambiente cultural que o cerca é propício a tal questionamento? Quais são suas influências culturais próximas? A escola tem contribuído de que forma para a formação de sua autocrítica? Qual é a responsabilidade do educador neste processo?

3. Linguagem X tribos urbanas: o ponto-de-vista da Antropologia Linguística

A Antropologia Linguística é um campo interdisciplinar que se baseia em várias outras disciplinas independentemente estabelecidas, mas especialmente nas disciplinas das quais tira seu nome: a Antropologia e a Linguística. Nas últimas décadas, este campo de estudo tem desenvolvido uma identidade intelectual própria, sendo seu principal objetivo descrever essa identidade e explicar como ela pode aumentar nossa compreensão da linguagem, não somente como forma de pensar, mas sobretudo, como prática cultural, isto é, como uma forma de ação que ao mesmo tempo pressupõe e realiza modos de o ser humano “estar no mundo”. Mas o que isto tem a ver com o nosso tema?

A Antropologia Linguística dedica-se ao estudo do papel das línguas e da faculdade lingüística dos indivíduos. Faculdade esta que é medida culturalmente, visto que a linguagem tem o poder de seduzir, convencer, obscurecer, destacar e reenquadrar a realidade social. Em outras palavras, os conceitos e pensamentos de uma sociedade, comunidade e grupos se estabelecem de acordo com as características de sua língua, e por isso, comunidades lingüísticas diferentes percebem o mundo de maneira própria. A diferença de língua tem, portanto uma estrutura intelectual e afetiva diferente.
Alessandro Duranti, Professor de Antropologia e Diretor do Centro de Linguagem, Interação e Cultura da Universidade da Califórnia, nos lembra que o uso da língua é mediado culturalmente: “Se quisermos compreender o papel da língua na vida das pessoas, precisamos ir além do estudo de sua gramática e entrar no mundo da ação social, onde as palavras são encaixadas e constitutivas de atividades culturais específicas, tais como, contar histórias, pedir um favor, mostrar respeito, insultar[...]”
Relacionando tais noções ao tema do esvaziamento lingüístico abordado no vídeo “Que Talk”, podemos claramente notar que o dano da perda lingüística e a utilização excessiva da linguagem não-materna pode levar o homem a um crescente empobrecimento cultural, tornando-o incapaz de perceber que o seu “estar-no-Mundo”, muitas vezes, torna-se um “estar-no-seu-mundinho”, ou seja, num viver isolado, num pensar atrofiado, onde os pensamentos se repetem, sem evolução. Com isso, perde a lingüística, perdem as demais ciências e, principalmente, perde o conhecimento humano. O falta do registro da experiência humana, realizado pela linguagem e, concretamente, pelas mais diversas línguas do planeta, acaba por amputar a cultura. E, em conseqüência, acaba por limitar o campo educacional, inserindo (mais) um hiato na relação professor-aluno.
Mas como fazer com que a existência e a influência das tribos não seja um obstáculo ao processo educativo, especialmente no que diz respeito à formação humana do aluno? Como harmonizar o uso das gírias, barbarismos e clichês com a valorização da língua natural? Como dar um basta no “com certeza” e abrir a discussão de forma convidativa?
O poema a seguir, de Anguair Gomes dos Santos, versa sobre a perda lingüística:
Barbarismo

Queria demonstrar meu romantismo Camuflando assim o barbarismo ao te fazer a melhor poesia muito distante da cacografiaque faz parte do povão.
Queria longe dos vícios de linguagem
Falar em versos da tua imagem
Sempre diante dos meus olhos sonhadores do teu amor uma soma de amores mas abuso sempre da má colocação.
E assim eu sem concordância vou aumentando a minha ânsia pois a poesia não pode esperar que eu faça um curso regular para conquistar teu coração
Desse jeito me apuro de vez pagando caro pela escassez de conhecer pouco a língua portuguesa tendo a gíria como sobremesa confeitada de deformação.

4. Linguagem X tribos urbanas: o ponto-de-vista da Lingüística

Antes de entrarmos no campo da lingüística propriamente dita, vejamos alguns conceitos referentes à definição de “língua” que podem contribuir para o nosso trabalho. Língua é o meio através do qual transmitem-se os costumes, as tradições e as regras sociais; é um instrumento de comunicação, utilizado por uma determinada comunidade para veicular conhecimentos sobre a experiência humana. A língua é, essencialmente, um fenômeno social, um sistema de representação cognitiva do universo através do qual as pessoas constroem suas relações, se comunicam.
A lingüística, palavra utilizada pela primeira vez na França, em 1826, por sua vez, é a ciência que se ocupa do estudo da linguagem verbal humana, manifestada pelas diferentes línguas. Para o lingüista, seja qual for a corrente de pensamento à qual ele pertença, toda e qualquer manifestação lingüística é passível de reflexão pois se tratam de manifestações sócio-culturais, ainda que estejam fora da norma padrão da língua, isto é, do jeito “correto” de falar.
Em relação ao uso da linguagem pelas tribos urbanas, não faz parte das atribuições da Lingüística atribuir um juízo de valor sobre este uso. O trabalho lingüístico é factual. Ele aponta e elenca o modo como a sociedade, em seus diversos agrupamentos, faz uso da língua para expressar-se. Constata-se atualmente um uso limitado da língua sob um duplo aspecto: limitado no sentido de pouco abrangente, tendo em vista a vastidão do idioma, e limitado, tendo em vista o uso restritivo do código de comunicação, que “liga” algumas pessoas entre si ao mesmo tempo que “desliga” outras tantas.
Em decorrência, podemos afirmar que na realidade atual subsiste um profundo confinamento no universo lingüístico. Pessoas não pertencentes à mesma linguagem tribal, acabam tendo grandes dificuldades em se comunicar, conformando-se com uma linguagem não-evolutiva, contentando-se em viver num mundo menor, estreito e restrito, limitando a comunicação e a interação cultural com outros indivíduos, e até com outras tribos, tendo em troca, apenas, a garantia de uma sólida comunicação “interna”.
Com efeito, o que fazer para que o ser humano transcenda o limite desta linguagem confortável intra-tribo? Como fazer para despertar o interesse pela língua natural, por suas transformações, levando-o a dominar um conhecimento mais integrado a respeito da linguagem? O que o professor deve fazer para que a turma compreenda o valor de ser trans-tribal, ou seja, de nos tornarmos uma aldeia global de verdade, onde possamos dar espaço para que outras pessoas possam participar, interagir, aprender, evoluir e compreender-se mutuamente?

5. Linguagem x tribos urbanas: o ponto-de-vista da Comunicação virtual

O final de século vinte ficou marcado pela aceleração do processo de globalização, derrubando fronteiras nos vários campos do universo de conhecimento cultural, social e histórico. A chamada globalização tem sido alvo de amplos estudos e discussões, enfatizando múltiplos fatores e manifestando várias tendências, como a divulgação rápida de informações, tanto na área social quanto na área técnica .
O avanço da tecnologia permitiu a ampliação e a padronização do léxico, de forma a atender a necessidades em situação de uso. Nesse universo, a Internet tem se tornado um dos meios de difusão de mensagens mais acessíveis e, desse modo, sua linguagem também se propagou e se tornou globalizada. Grande parte dos avanços tecnológicos está no processo evolutivo da comunicação, conduzindo-se para uma maior democratização do saber e da informação. A comunicação virtual introduz um conceito de descentralização da informação e do poder de comunicar. Todo computador conectado à Internet possui a capacidade de transmitir palavras, imagens e sons. A informação não se limita apenas aos donos de jornais e emissoras; qualquer pessoa pode construir um site na Internet, sobre qualquer assunto e propagá-lo de maneira simples. O espaço cibernético tem se tornando um lugar essencial, um futuro próximo de comunicação e de pensamento humano. Esse espaço abre possibilidades de comunicação completamente distinta da mídia clássica. Na educação a influência nas áreas referentes à lexicologia e à terminologia tem demonstrado a importância das atuais pesquisas, estimulando reflexões, com relação a suas convergências e divergências, de modo a envolver os conceitos, as finalidades e os campos de atuação.
Nas últimas décadas, com o desenvolvimento tecnológico, grandes transformações culturais e educacionais afetaram a sociedade de uma forma integral e em meio as mudanças que ocorreram, destaco a formação de novas tribos e linguagens, as quais causam um grande impacto na cultura e educação tradicional. Em meio as tribos classificadas como urbanas, encontramos alguns grupos que se caracterizam pelo alto grau de envolvimento com tecnologia e comportamento introvertido e intelectual, são estes os Nerds e os Geeks.
A cultura Nerd, estereotipada nos anos 80, como pessoas introvertidas, formais e extremamente intelectuais, sofreu uma evolução de acordo com a velocidade dos avanços científicos e tecnológicos. O resultado desta evolução trouxe um novo Nerd, mais arrojado, sociável e com costumes modernos; são estes chamados de Geeks.
Os Nerds são geralmente descritos sob uma conotação depreciativa. Na verdade, são pessoas que exercem intensas atividades intelectuais, que são consideradas inadequadas para a sua idade, em detrimento de outras atividades mais populares. Geek é uma expressão idiomática da língua inglesa, uma "gíria" que define pessoas peculiares ou excêntricas obcecadas com tecnologia, eletrônica, jogos eletrônicos ou de tabuleiro etc. O Geek faz parte de uma nova geração de Nerds. Mais “descolados”, podem ser tão inteligentes quanto um Nerd, porem, em alguns casos, essa é uma condição adquirida, pois a paixão pelo conhecimento e a avidez pela aprendizagem fazem com que géis tornem-se especialistas em suas respectivas áreas tecnológicas.
Alguns especialistas chamam a atenção para o empobrecimento da linguagem, e enxergam essa transformação e a existência de tais tribos como o declínio da formação e dos valores da língua culta. No entanto, a linguagem da internet já é uma realidade que ultrapassou as fronteiras da Internet. Agora, a preocupação é de como está sendo usada e até que ponto pode influenciar no aprendizado e na comunicação entre as pessoas. Trata-se da linguagem conhecida como internetês, que surgiu entre os usuários de chats de conversação, blogs (diários virtuais) e ICQ (programa de comunicação).
O problema real configura-se quando este tipo de linguagem passa ser a única forma a ser utilizada. Portanto a questão trata-se de bom senso e conscientização de que o seu uso implica em situações específicas e informais.

6. Linguagem x tribos urbanas: o ponto-de-vista da Sociolingüística

Desenvolvida em grande parte por William Labov, a sociolingüística é a ciência que estuda a língua sob a perspectiva de sua estreita ligação com a sociedade onde se origina. No Brasil, as influências históricas sofridas pela língua portuguesa foram inúmeras. Apesar de praticamente devastadas pelos colonizadores, as línguas faladas pelos nativos (Tupi, Guarani, Nheengatu etc) contribuíram para a formação do léxico brasileiro.
A chegada de escravos africanos com seus dialetos influenciou este léxico e o próprio ritmo da língua. As invasões e dominações também deixaram marcas na língua falada no Brasil. Os imigrantes, a partir do século XVIII, trouxeram inúmeros vocábulos e construções sintáticas novas, além de fortalecer as diferenças regionais específicas.
No entanto, foram as influências ideológicas internacionais que modificaram e ainda modificam constantemente o jeito de falar do nosso povo. Nosso país possui uma certa identidade “importadora” de vocábulos que, provavelmente, nenhum outro país a tenha. São palavras, utensílios, roupas, comidas, entonações e fonética, ritmo e expressões idiomáticas que se misturam de forma muito natural.
A eclosão das tribos pelo mundo afora exerceu forte influência sobre a cultura brasileira. Tal influência tem permeado o nosso dia-a-dia. Constantemente, somos surpreendidos por expressões típicas de grupos, por gírias, por modos de falar que, de tão específicos, parecem sugerir que seus utilizadores, mais do que membros de um tribo, vivem numa sociedade a parte. Sociologicamente, isto implica, além do específico modo de falar, um específico modo de pensar e agir em sociedade, a qual pode, atualmente, ser considerada como um todo multifacetado de culturas, que devem buscar o sadio caminho da intercomunicação.
Transferindo esta questão para o campo educacional, é necessário que o aluno compreenda-se como possuidor de plena capacidade de expressão, que ele reconheça que a diversidade lingüística é uma riqueza da nossa cultura que a língua é um importantíssimo elemento de promoção social, mas também pode ser um forte elemento de repressão, quando deixamos de lado a nossa visão crítica sobre a realidade que nos cerca.
Mas como promover uma reeducação sociolingüística? Como valer-se do espaço e do tempo escolar para formar cidadãos conscientes da complexidade da dinâmica social? Como formar cidadãos conscientes das múltiplas escalas de valores que empregamos a todo momento em nossas relações com as outras pessoas por meio da linguagem? Como o professor deve conduzir a turma, no sentido de inspirá-la a ampliar o seu repertório comunicativo, levando-os a afastarem-se do risco de simplificar e empobrecer seus pensamentos?
“Certo e errado são conceitos pouco honestos que a sociedade usa para marcar os indivíduos e classes sociais pelos modos de falar e para revelar em que consideração os tem... Essa atitude da sociedade revela seus preconceitos, pois marca as diferenças lingüísticas com marcas de prestígio ou estigma” (Cagliari, 1999).

Conclusão

Após trabalharmos com afinco durante duas semanas sobre o intrincado tema da linguagem, do empobrecimento lingüístico e das tribos urbanas, após a troca de dezenas de e-mails, idéias e pontos-de-vista, chegamos à conclusão de que temos uma infinidade de perguntas sem respostas. E, neste estágio da pesquisa, nos parece bom que seja assim, que estejamos trilhando o caminho da interdisciplinaridade, da pesquisa a partir de várias frentes. Os seis aspectos levantados para discussão nos mostraram o quanto vale uma investigação que foca vários lados de uma mesma questão, desde o levantamento dos dados, até a elaboração final do texto. Como em quase todo trabalho em grupo, nós, também, não temos uma visão unânime sobre a questão. E estamos certos de que as divergências de opinião foram, também, um dos elementos dinamizadores da pesquisa.
É um fato incontestável que a existência das tribos urbanas não sofrerá um retrocesso histórico. Não adianta, portanto, tecer uma longa lamentação diante de sua existência. Precisamos refletir sobre o tema, utilizando os mais diversos conteúdos do conhecimento humano. Foi isso que tentamos iniciar com este breve estudo. O que pode (e deve) ser mudado é o modo como o indivíduo se enxerga dentro da tribo e de que forma ele interage com a sociedade. Ou seja, a mudança é passível de acontecer a partir e no sujeito. Mas para descobrir uma nova forma de se enxergar e de enxergar o mundo, é necessário ao sujeito, não apenas pensar, mas querer esta mudança. A partir da formação de uma capacidade crítica, o indivíduo estará aberto ao florescimento cultural, tão falado anteriormente, que permitirá sua integração intra e trans-tribo.
Mas, não poderíamos deixar de citar a necessidade premente de um novo paradigma educacional, que consiga abarcar a dinâmica histórica irreversível da atualidade e, dessa forma, conduzir, em sala de aula, os alunos a re-construir seu universo cultural. Em vez de deixar de lado suas preferências pessoais – como se elas não fizessem parte de sua experiência no mundo – estas esferas devem ser integradas no sujeito, que é uno, mas pode fazer confluir em sua unidade, uma vasta multiplicidade de possibilidades. As pessoas não devem prescindir dos elementos que formam a sua identidade, mas a integração de idéias é essencial ao desenvolvimento humano. É a unidade da diversidade, já citada neste texto.
A pergunta, portanto, que congrega todas as demais específicas questões levantadas é: de que forma o processo educativo pode ajudar o indivíduo a enxergar suas limitações e, refletindo sobre elas, querer – e conseguir – transcendê-las?
O vídeo a seguir serve como incentivo a esta proposta:

Aprendizagem colaborativa

http://www.youtube.com/watch?v=NjJGSMJQ91U&feature=related


 

Um comentário:

  1. A pesquisa foi rica. Como dizem vcs: "Os seis aspectos levantados para discussão nos mostraram o quanto vale uma investigação que foca vários lados de uma mesma questão, desde o levantamento dos dados, até a elaboração final do texto." Parabéns!!. Entretanto, não foi dado igual valor à articulação com a cultura e com a educação. Tencionem esta articulação. Vcs já têm conteúdo rico. Mas falta fazer articulações oportunas com a crise da cultura e da educação. Estarei à disposição do grupo para ajudar nesse sentido. Vcs têm até a AV2 para agregar valor ao texto.
    Abrs, Marco

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